terça-feira, junho 22

Fim dos tempos

- Filha! Corre aqui!

Disparada pelos corredores da casa a menina foi em direção aos berros da mãe que via televisão na sala.

- Que houve mãe? - Disse ainda meio afobada.

- Disseram na TV que o mundo acaba depois de amanhã. - A mãe permanecia com a mesma expressão serena, como se tudo fosse óbvio demais. - Acredita? Esperei por esse dia durante cinquenta e seis anos. Vivi durante todo esse tempo em função do mundo e, de repente, ele resolve acabar.

Os argumentos explodiam na ponta da língua da filha, mas pouco importavam agora perante a notícia. Poxa vida, o fim do mundo. E não é que o mundo realmente explodiria e a levaria junto? Enquanto ela só vivera treze anos, treze anos e tudo ia acabar. Achou aquilo um pouco sacana, o que ela tinha feito de errado? Enganara a mãe para ficar até mais tarde em seu quarto lendo livros no escuro? Errara muitas questões de matemática? Mas pensou melhor, e descobriu que tudo aquilo na verdade era só enganação. Não o fato de tudo explodir, o mundo realmente acabaria. Mas sim o fato de ter feito tudo em vão.

Em vão, então descobriu que talvez esse fosse o sentimento da mãe.

- Eu vou respirar o máximo que puder. - A filha, de olhos arregalados, falou para mãe.

- Acho que quero morrer dormindo ao lado do seu pai.

- Eu não tenho com quem morrer. Vou morrer sozinha. - Foram só treze anos, e a forçaram a escolher com quem morrer. Não chegara nem aos quinze, então talvez ficasse só como poeira cósmica.

- Que horror filha. Você vai morrer com a gente. - Deu um sorriso sincero que a filha sabia muito
bem o que significava.

- Não não mãe, vou morrer sozinha por nunca ter ido embora. - Fez uma pausa e puxou novamente o ar. - Não me forcem a morrer acompanhada. Se não vão pensar que eu quis ficar aqui.

Um comentário: