quinta-feira, maio 21

Things Left Unsaid

Tem sido muito fácil, em momentos de bobeira, revendo coisas antigas, me pegar com aquela contradição, me encontrar com o gosto amargo que memórias de seis anos atrás gravaram em meus sentidos. Não apenas pela forte nostalgia de tudo aquilo. Tem alguma coisa sobre mudança, sobre estar mudando e não ser capaz de conseguir aguentar o tranco que me desespera, me aterroriza, faz com que qualquer base seja esquecida em questão de segundos.

Por algum motivo, eu sempre me pego pensando em como a Hanna de hoje agiria perante aquelas situações. Meu Deus, a Hanna de seis anos atrás não consegui falar dela mesma, não conseguia dizer o quanto algumas coisas doíam porque tinha medo. Do que exatamente ela tinha medo eu já não consigo lembrar. Parece distante esse medo de achar a solidão uma sentença de morte. Claro, nem tudo naquela época se resumia à isso, mas as poucas coisas que eram possíveis de serem expressas se remetiam à essa sensação. As noites no deserto, o som dos passos que a seguiam, que lhe dava segurança. Tudo isso persistiu. Em algum lugar por aqui.

Mas persistiu de um jeito que... Me levou a caminhos surpreendentemente diferentes daquilo que eu esperava ou ansiava por. Mas ainda assim, caminhos que me fazem olhar para trás e ser capaz de sentir uma angústia tão antiga. Será que isso ainda é rancor? Será que é certo me sentir vítima de tudo aquilo? Tudo que eu mais queria, naqueles dias, era ser capaz de segurar sua mão e fazer o universo brilhar. Como eu pensava ter sido capaz em algum momento de nossa jornada. Porém, tudo o que eu era capaz de fazer era... Achar que eu entendia sua dor. Imaginar que era fácil para você, assim como é para mim, "seguir em frente". Tudo o que eu conseguia fazer, no ápice de minha desistência, era pedir que você se esforçasse um pouco para que as coisas se resolvessem (ainda que eu me referisse unicamente à nós dois, não era minha intenção querer que você resolvesse o mundo... Juro).

Eu não conseguia entender o que te mantinha vivo. E não queria aceitar que nossas essências fossem tão diferentes. Eu queria poder te entender, te sustentar. Mas os resultados se mostravam mais e mais desastrosos. Como tudo aquilo passou sem perdas catastróficas é algo que eu ainda não entendo, mas, também, uma dor que eu me orgulho de ter suportado. Obviamente, tudo aquilo não passou sem consequências, isso é aparente toda vez que sinto o nó se formar em minha garganta.

Por fim, parece que provações como aquela se jogam sobre nós sem aviso nenhum, apenas querendo diferenciar aqueles que tentarão resistir bravamente à tempestade daqueles que se dobrarão à ela e posteriormente desistirão. Foi algo que aconteceu uma única vez em nosso percurso até aqui (não que outros problemas não tenham encontrado o caminho até nossas portas). Foi algo que me marcou para sempre. Mas é algo que nos tornou mais fortes.

A força, entretanto, de nada nos adiantou ao percebermos as mudanças nas passagens do tempo. Cada vez mais assumimos responsabilidades que não somos capazes de carregarmos sozinhos, cada vez mais parece que outros dependem de nós e não o contrário. Nessa época, estávamos os dois apavorados, mas ouso dizer que tive, e ainda tenho, mais medo que você. Eu, que sempre me achei um pouco mais madura que o normal (apesar de frequentemente ouvir pessoas criticando minha postura infantil), não sabia como reagir à vida. Não fazia ideia do que era ingressar numa rotina que você já vivia há vários anos (e ainda não sei). Por motivos que fogem à minha compreensão e ao meu poder a vida me permitiu ter mais tempo para amadurecer. Mais tempo para poder fugir ao conforto do colo de meus pais (e até mesmo o seu) quando necessário.

Sabe... Acho que o que eu quero dizer não tem nada a ver com essa amargura que me persegue. O que eu quero dizer é que, talvez, finalmente, eu seja capaz de aceitar que travamos, eu e você, batalhas muito diferentes em nosso interior. Batalhas que podem, em alguns momentos, parecer superficiais e bobas, mas que, acima de tudo, sempre serão nossos demônios pessoais. Por que duas pessoas tão distintas, com problemas tão distintos seriam capazes de resistir à tempestade?

As formas de responder essa pergunta podem ser infinitas, com toda a certeza. Porém, ao olhar em seus olhos eu só tinha uma solução, um objetivo para tudo aquilo: eu quero sobreviver mais um dia ao seu lado. Eu quero ser capaz de enfrentar a tempestade e nossas diferenças. Eu quero poder estar ao seu lado, não como uma coadjuvante, mas como uma companheira. Como dois protagonistas de uma mesma história. Por fim, eu quero ter "possibilidades". Não quero a certeza de que serei esmagada pela chuva e pelo terror. Eu quero poder segurar a sua mão e encarar o futuro. Melhor ainda, quero ser capaz de enxergar os tantos caminhos que somos capazes de abrir juntos.

Juntos. Não como duas partes opostas que se encaixam. Mas como essa loucura caótica e contraditória que nos define tão bem. Juntos, diferentes, porém, com a coragem suficiente para encarar o próximo. Seja lá o que esse "próximo" seja.

Ugh, algumas coisas não mudam, em especial o sentimento de não alcançar nada em específico ao final de um texto pessoal.

Posso ganhar um abraço ao acordar? Porque ultimamente só tenho pensado o quão incrível você é.

Eu sempre costumava pensar "eu não posso explodir agora, se explodir, vai ficar tanto por dizer, tanto por fazer...". E você, do seu jeito meio confuso, tentava me ensinar de que nada adianta não explodir se tudo for permanecer no silêncio. Você me ensinou, sim, que, ao explodir, irá existir aqueles que se esforçarão em procurar nossos pedacinhos impronunciáveis no tempo. Eu te amo? Pode ser mais fácil falar assim: te amo mesmo.